sexta-feira, 28 de março de 2014
Em um
domingo de verão de 1984 estávamos de serviço em um navio fundeado na
baia de Ilha Grande. Ao lado passavam lanchas adornadas com pessoas
alegres e mulheres fotografadas milimetricamente pelos olhos de bordo.
Uma das lanchas entrou em contato por rádio, solicitando uma visita ao
navio. Na impossibilidade de visitação, por conta de questões de
segurança, ficamos, os de lá e os de cá, a imaginar os universos
flutuantes dos outros. E a imaginação não é, por vezes, a melhor das
saídas?
sexta-feira, 21 de março de 2014
"Era só um marinheiro.
Só um marinheiro só.
Um marinheiro só.
Olhos cor de mar,
pensamento nos olhos
cor de firmamento.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
No mar se lança
Até alcançar
As percas pra pescar.
Pra alimentar as crianças.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
Chora em silêncio
as perdas das percas
Com a seca do mar.
Com a distância de amar.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
Navega nas ondas
do mar deserto,
nas dunas de areia.
Nos dias incertos.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
Das duras pedras
extraí crustáceos incrustrados, pesca peixes pequenos.
Sonha tesouros enterrados.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
Na miragem do porto
vê agua, vê sopa,
vê um ponto acenar.
Um desejo de amar.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
Da proa desata os nós,
ancora os pés junto ao ponto.
Ponto e marinheiro encontram-se sós.
Marinheiro e ponto são um só."
Da crônica O Pescador de Pecados, de Márcia Széliga, publicada no livro ANTOLOGIA - NOVOS AUTORES CURITIBANOS.
Só um marinheiro só.
Um marinheiro só.
Olhos cor de mar,
pensamento nos olhos
cor de firmamento.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
No mar se lança
Até alcançar
As percas pra pescar.
Pra alimentar as crianças.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
Chora em silêncio
as perdas das percas
Com a seca do mar.
Com a distância de amar.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
Navega nas ondas
do mar deserto,
nas dunas de areia.
Nos dias incertos.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
Das duras pedras
extraí crustáceos incrustrados, pesca peixes pequenos.
Sonha tesouros enterrados.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
Na miragem do porto
vê agua, vê sopa,
vê um ponto acenar.
Um desejo de amar.
Era só um marinheiro.
Um marinheiro só.
Da proa desata os nós,
ancora os pés junto ao ponto.
Ponto e marinheiro encontram-se sós.
Marinheiro e ponto são um só."
Da crônica O Pescador de Pecados, de Márcia Széliga, publicada no livro ANTOLOGIA - NOVOS AUTORES CURITIBANOS.
segunda-feira, 17 de março de 2014
Em
uma tarde de travessia do Rio de Janeiro para Le Havre no final do ano
de 1983, a bordo de navio de carga geral Flamengo, tirávamos serviço no
passadiço eu e um marinheiro conhecido por suas histórias fantasiosas.
Em um certo o marinheiro apontou para a proa a bombordo e, assustado,
relatou ter visto um objeto vir do céu e entrar no mar a cerca de dez
milhas. Não o levei a sério, apesar de sua insistência em confirmar a
veracidade do mergulho. Uns treze minutos depois um objeto saiu do mar a
cerca de dez milhas da proa, ligeiramente a bombordo, por mais que eu
insistisse em não ver a verdade do marinheiro. Aprendia ali que
preciosos momentos na vida são fugazes e inexplicáveis.
sexta-feira, 14 de março de 2014
Em
uma tarde de fevereiro de 1982 passamos pelo equador, pouco antes de
entrar no Mar de Célebes. Como reza a lenda todos os pagãos devem ser
batizados ao fazer esta passagem para boa sorte da navegação. Ganhei o
nome de "Cangulo" naquele dia e mais alguns litros de óleo queimado na
cabeça, temperado com todas as sobras de cozinha. Alguém deve ter sido
poupado da cerimônia pois um ou dois dias depois, no Mar das Filipinas, o
furação Nelson tentou embarcar. Ainda hoje, quando ameaçam
tempestades, repito meu nome de batismo para não esquecer quem eu sou.
segunda-feira, 10 de março de 2014
Marinheiro
velho aprendeu que o bom da vida está no porto, mas não no próximo, no
outro. Olha para o mar sem pressa, respira o mar com todos os seus
sentidos. Sua imaginação permite viver sua solidão.
sábado, 8 de março de 2014
Às
20:00h daquele dia de outono de ansiosa expectativa, o navio dobrava o
Cabo da Boa Esperança e colocava a proa em direção ao Brasil. Tinha ido
muito além do Bojador e agora voltava carregado de ouro líquido e
negro. Os dez dias que se seguiram duraram, cada um, eternidades. São
Sebastião, escondido atrás de Ilha Bela, era promessa e conversa de
cotovelo no passadiço. O Atlântico era deserto, era sertão de Antonio
Conselheiro. Os primeiros sinais de rádio traziam a Hora do Brasil.
quinta-feira, 6 de março de 2014
Sobre as histórias de bordo classifico-as em três tipos de ordem crescente de interesse:
As verdadeiras;
As mentirosas;
As proibidas.
As verdadeiras;
As mentirosas;
As proibidas.
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