domingo, 30 de agosto de 2015

Aguardo cartas de amor



Aguardo cartas de amor

No próximo porto a promessa

Apenas prometa que vai me amar

E que em um porto qualquer

Prometa

Receberei dias de festa

Seu perfume em pele

Batom em meias palavras

Não me conte construções de areia

Jamais sinceras desculpas

Eu sei

Você sabe

Não diga da sua não existência

Eu quero a utopia das sereias

Antes de olhar a água salgada

Inventar a vida e a morte

Sou pessoa de a-mar.




quinta-feira, 27 de agosto de 2015

É sempre partida





E o barco partiu

Assim o homem ama

Herói em sua jornada

Eremita de jornada própria

A mulher sente sua falta

Assim a mulher ama

Eremita de outra jornada

O homem e a mulher se encontram

Partilham o indizível

E se partem.



segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Quando o mar secar





Quando o mar secar
E os ventos forem ao céu
E só as pessoas forem água
Líquidas, de verdades passageiras
De palavras escorregadias
Que meu amor seja navio
E que eu tenha coragem
Todo meu corpo a navegar.



quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Das assombrações marinheiras



Das assombrações marinheiras

Foi um mau tempo

Intervalo entre águas claras

Um descuido de desamor

Um pensar de ventos inquietos

Das culpas a mais prepotente

O navio encalhou sem defesa

O medo do fim, o desejo do fim

Mas já foi há muito tempo

Por que ainda sinto assim?


terça-feira, 11 de agosto de 2015

O mar e as pessoas





     Olha assim o mar em silêncio como se ele nunca é a mesma pessoa, e não é. Não tente lhe dar conselhos, apenas o silêncio. Escuta atentamente a água salgada com todos os seus sentidos. Se possível não tenha medos descabidos, tenha respeito e a distância certa. Se observar seus movimentos vai saber quando ele vai virar. É da natureza dele crescer-se em ondas, a sua é navegar. Ora lhe flutua, ora lhe afunda por sua substância, não por intenção ou caráter. Aquilo que lhe ameaça é a sua condição de vivo, jamais o mar.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Saudades



     Vez ou sempre sinto-me incomodado por razão humana, a saudades dos amigos dos tempos de mar. Pessoas de lastro, carregadas de humanidade, que dividiram momentos em infinitas horas de mar. Algumas poucas eu ainda encontro nas redes sociais e outras, a maioria, há muitos anos desembarcaram da minha vida sem mais notícias. É assim, sigo repleto de novos encontros mas, como agora, recorre imensa saudades de conversas a balançar.

      Divido isto com vocês como um desabafo, a válvula de ar aberta para o apito, o mar.



domingo, 2 de agosto de 2015

Os sentidos






Escuta o trepidar com os pés

Cheira a fumaça como perfume

Toca o metal para sentir calor desajeitado

Fecha os olhos para evitar enganos

A boca apenas molhada

Sente o marinheiro seu navio

Atento aos sentidos do aviso antecipado

Navio é corpo

É a terra que avisa

Já é hora de cuidar.