Em 1983 éramos alunos da Escola de Formação
de Oficiais da Marinha Mercante e fizemos uma viagem de instrução no navio de
transporte de tropas Ary Parreiras. Um uma noite de olhar céu e nuvens uns
cinquenta de nós fomos à proa do navio, contar histórias e vantagens. No
decorrer das contações de vitórias e tragédias seguiram-se as histórias de
terror, de assombrações, coisas sobrenaturais e outros exageros. Com tanta
testosterona junto os causos eram ouvidos com muita coragem e bom humor. As
histórias da região norte, de espíritos das florestas e outras lendas cresceram
entre nós, sentados no convés do navio a navegar pelo mar do nordeste
brasileiro. Alguns faziam suas narrativas com maior impacto pois acreditavam
mesmo no que contavam. Outros pareciam estar inventando naquele instante uma
lenda milenar, mas nem por isto tinham menos ouvidos atentos. Os espaços de
silêncio entre as histórias foram aumentando até o momento em que alguém
apontou o horizonte à boreste, mostrando a mais estranhas das nuvens, escura e
sombria, a se aproximar do navio. Foi o suficiente para todos partirem em
disparada pelas escadas em direção às cobertas. No mesmo instante o oficial de
quarto anotava, sem sobressaltos, no diário a presença de "cúmulos
cobrindo 5/8 do céu". Estas histórias que se contam, as teorias dos finais
dos tempos, tomam proporções de desastre quando achamos que o perigo maior está
apenas fora de nós, não é?
Créditos de imagem: https://eco4u.files.wordpress.com/2009/09/24grcumulonimbus.jpg