sexta-feira, 27 de junho de 2014

Ente duas ondas

     Entre duas ondas se esconde um navio. Nele vão marinheiros a levar suas cartas de amor, seu presente para alguém distante, sua encomenda de felicidade, a saca de café e fardos de algodão.
     Entre duas ondas se esconde uma casa. Nela moram marinheiros de todas as humanidades, a olhar o infinito com a certeza que ele vai acabar.
     Entre duas ondas se escondem almas que vão além da dor. "Lá vai a vida a rodar".

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O Rio Weser

     No rio Weser, canal de entrada para o porto de Bremen, lá pela metade da navegação, vê-se a bombordo um bunker utilizado na segunda guerra para abrigar submarinos dos bombardeios aéreos.  Uma estrutura de concreto para abrigar cabeças submersas no medo de tanta coisa. Pequenas barcaças perfeitamente pintadas circulam desde a entrada do canal, em Bremerhaven. Alguns veleiros circulam em concisa alegria de dia de sol em inverno.   Atracado ao porto o navio sobe e desce doze metros em pouco tempo, junto com a maré.   A carga sobe e desce do navio, já congelado pela temperatura de tantos graus abaixo de zero.   Nem mesmo a destruição no convés causada pela tempestade dos dias anteriores, pedaços por todos os lados, tirava a quietude e graça da cena.   O navio treinava a arte de estar presente sem negar ou se apaixonar pela própria história.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Travessia em oceano maior

     Durante uma travessia em oceano maior, lá pelo meio da tarde de um dia comum, chegou pequeno telegrama ao piloto de folga. Bateu o telegrafista a sua porta, balançando o transparente papel branco. Nasceu sua filha Mariana, já cheia de saudades, assim como eu, dizia a mensagem. O rapaz com olhos a marejar, sabendo que só sentiria o cheiro do quintal de casa meses depois, botou-se a suspirar. Chamou todos pois aquela alegria precisava de testemunha. Lá ia o navio, empurrando a água, cada vez mais longe de casa, a chaminé a suspirar.