quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Dois navios se cruzam

Dois navios se cruzam em alto mar. Rumos opostos, distâncias seguras, atraem os olhares marinheiros. Antes que haja tempo se fazem horizonte um para o outro. Para não se perderem, os marinheiros de ambos os barcos crescem sua imaginação. Humanos encontros, disfarçados de embarcação.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Aos dias frios de mar





Aos dias frios de mar o marinheiro fecha os olhos. Assim o frio não entra na alma. O frio no mar pode ser convite às tristezas de Gaza, às impotências da lembrança. Fecha os olhos, balança os outros sentidos e deixa o navio o levar.
Navio João Cândido




sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Eu era menino

Aos vinte e um eu era menino de todo, mas já calçava um navio super petroleiro de trezentos e cinquenta mil toneladas em meus pés marinheiros. Cruzando o Mediterrâneo pela madrugada e próximo à Argélia, complexas manobras entre várias embarcações se apresentaram. Antes de minhas pernas balançarem e pedir auxílio ao Comandante, o marinheiro Grinaldo, baiano de boa tensa, me intimou dizendo "o senhor é Piloto ou não é?" Encontrei pai quando menos esperava, tomei coragem e seguimos em frente, até a Turquia. Tornei-me de súbito um homem que eu não conhecia.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Vitorino era um bombeador

Vitorino era um bombeador daqueles de valor. Conhecia cada válvula no convés, todo centímetro da rede de vapor e falava com cada uma das inúmeras redes de carga como se tivessem nascido em Cabedelo, na Paraíba, sua terra natal.
Certa vez estávamos atracados em um porto nos EUA e aguardávamos o iniciou de uma operação de carga quando o observei gesticulando com o operador do terminal, a bem entender um norte-americano e um Vitorino que nada de inglês falava. Eu era o oficial de serviço e curioso fiquei a observar a cena até o momento em que recebi por rádio dele todas as instruções passadas pelo terminal. Não compreendia como tinha sido possível aquela comunicação e mal Vitorino sabia me explicar o ocorrido. Não dando razão à sorte, confirmei com o terminal as instruções passadas e todas estavam corretas.
Hoje entendo mais o fato. As águas que banham Cabedelo são as mesmas que chegam àquele porto estrangeiro. Existe algo de humanidade que a necessidade de compreensão faz aparecer.