sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

     Ao final da tarde de um dia de outono, navegando rumo sul no oceano Indico, tendo Madagascar passando fora da visão por bombordo, aproveitávamos o horizonte e a forte corrente local. Com o sextante em punho, preparando-nos para tirar a altura angular de algumas estrelas, fui a asa de bombordo e olhei para o mar. Dois enormes tubarões martelo aproximavam-se à "black block" do costado. Tocaram o metal abaixo da água e se foram em displicente despedida. Nunca mais vi outra coisa assim. Para dias de mar este foi um evento suficientemente bom para não mais se esquecer. Aprendia naqueles dias a não ser um homem ideal mas um suficientemente bom.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

     Às 07:35h de um dia de inverno o navio se aproxima da costa do Japão. Um ferry boat com um enorme sol pintado passa apressado pela popa. A lancha do prático aproxima-se por boreste enquanto a tensão corre pelo passadiço. O Comandante, vestido de impecável uniforme cáqui, desfila com sua peruca de um bordo ao outro. Seu sotaque paraense tenta desaparecer entre palavras em inglês. Dezenas de barcos de pesca coloridos deixam o porto em procissão de primeira ordem. O jovem estagiário fotografa com os olhos cada cena.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

     Às 14:30h de bordo fazia um calor de carnaval no Golfo Pérsico. Na água centenas de animais de várias espécies se refrescavam em natação agitada. Algumas cobras seguiam na mesma direção que a curiosidade não era permitida a chegar. O navio carregava milhões de litros de petróleo, uma operação cheia de cuidados e olhares. Tudo tão grande, tão desconhecido como se ainda hoje fosse difícil caber no papel.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

     Às duas e trinta da manhã entre paralelos e meridianos do meio do oceano atlântico um navio corta o mar em luminosas metades. O parafuso atirado pela asa de boreste vai atingir o fundo da água tempos depois. No horizonte só o mar, confirma o radar. Durante horas fica-se a olhar para o nada, com um curto espaço de tempo a cada hora para se completar o diário. Nada a olhar significa a segurança primeira pois nenhum outro navio está a ameaçar. Abaixo dos pés dormem outros marinheiros, menos dois que cuidam das máquinas. Todos os dias, duas vezes ao dia, tinha horas de imaginação, quando também aparecia no passadiço alguém disposto a conversar.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

     Às 20:30h, hora de bordo, Singapura passava luminosa por boreste. O binóculos fixo não perdia a cena e curiosos logo atrás seguiam os olhos de um jovem estagiário. O navio já havia feito trinta e seis dias de ininterrupta travessia até o Japão. Havia passado por um furacão e, mais grave, passado pela mudança de humor da tripulação. Abaixo dos pés o mundo balançava inconsequentemente, sentia o rapaz, que desde então não foi mais o mesmo.