sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Trancendental

     A dois metros de profundidade, quase à popa do navio em exaustiva manobra de atracação, uma mancha escura se desloca suavemente por um mar de cores enormes. Curiosos, os cinco marinheiros na popa ajeitaram seus olhos para repararem em tudo, nos cabos, nos cabrestantes, nas luvas e botas, na boça e no macacão. Olhos maiores foram ao raso fundo do mar, olhar a mancha que vinha à tona. A lancha que auxiliava a atracação já tinha olhos divergentes também quando a enorme arraia surgiu à borda das profundidades. Estas coisas que surgem do fundo transcendental, como se fossem pássaros imensos mergulhando da borda do céu, causam um não sei de felicidade, um arrepio que vem das entranhas. Bailou o mar da arraia, pintou o mar de movimento e mergulhou. Foi assunto de dias e encontros em todo o navio. Vez ou outra encontro pessoas com alma de arraia, mergulhadas em suaves mares interiores.