A dois metros de profundidade, quase à
popa do navio em exaustiva manobra de atracação, uma mancha escura se desloca
suavemente por um mar de cores enormes. Curiosos, os cinco marinheiros na popa
ajeitaram seus olhos para repararem em tudo, nos cabos, nos cabrestantes, nas
luvas e botas, na boça e no macacão. Olhos maiores foram ao raso fundo do mar,
olhar a mancha que vinha à tona. A lancha que auxiliava a atracação já tinha
olhos divergentes também quando a enorme arraia surgiu à borda das
profundidades. Estas coisas que surgem do fundo transcendental, como se fossem
pássaros imensos mergulhando da borda do céu, causam um não sei de felicidade,
um arrepio que vem das entranhas. Bailou o mar da arraia, pintou o mar de
movimento e mergulhou. Foi assunto de dias e encontros em todo o navio. Vez ou
outra encontro pessoas com alma de arraia, mergulhadas em suaves mares
interiores.