terça-feira, 7 de outubro de 2014

Tempos de mar

     Nos tempos em que estive embarcado em navios químicos um acontecimento era digno de muita atenção, a preparação para carregamento de álcool na Argentina. Os tanques eram lavados exaustivamente e fazíamos intermináveis testes de antepara para verificar resíduos de cargas anteriores. Descíamos as escadas dos tanques com todos os equipamentos teste, tubo de ensaio, água destilada, álcool e uma pequena lanterna. Tentávamos adivinhar todos os cantos onde o temível inspetor argentino colocaria seu olhar diabólico. Ao chegar ao porto de Campana lá estava o sorridente e previsível inspetor, Sr. Alfredo Suppa. De sorriso fácil, grande simpatia e conhecido já por todos a bordo, ele descia aos tanques para logo achar o erro que tínhamos certeza não existir. Subia sorridente, gentil, argentino, e solicitava outra lavagem do tanque. Como expressar a raiva àquele inspetor, que era certeiro e gentil em seus "nãos"? Tal gentileza lembra-me de como às vezes somos cruéis em própria correção, como se fôssemos a pior das pessoas, o maior dos inimigos marginais.

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