Vez
ou outra, durante uma travessia, subia ao passadiço um tripulante
disposto a conversar qualquer assunto. Isto tornava o quarto de serviço
mais agradável e mais rápido. Não raro eram assunto os sonhos de
futuro, de guardar dinheiro, de comprar uma casa para mãe, de ver os
filhos crescerem e frequentarem boas escolas. Por vezes reclamavam do
trabalho a bordo, de seus chefes a darem ordens sem pudor
ou respeito. Em outras contavam histórias de outros tripulantes com
quem embarcaram em tempos anteriores. Uma conversa leve , geralmente de
bom humor, corria oceano afora. Em muitos dias ninguém aparecia
naquelas quatro horas e a imaginação cobria a falta da boa conversa. Na
chegada do navio ao porto o ritmo era outro, mais rápido, mais sério e
sem tempos para conversas. Quando o navio saia em travessia novamente,
subiam os marinheiros para contar suas aventuras e, em especial, as
divertidas graças e desgraças em terra foram participar. Ali, naquele
momento, nenhum lugar do mundo era melhor de se estar. Um a testemunha
da existência do outro, sem se pensar ou se sentir necessidade da eterna
felicidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário