quinta-feira, 10 de abril de 2014

     Vez ou outra, durante uma travessia, subia ao passadiço um tripulante disposto a conversar qualquer assunto. Isto tornava o quarto de serviço mais agradável e mais rápido. Não raro eram assunto os sonhos de futuro, de guardar dinheiro, de comprar uma casa para mãe, de ver os filhos crescerem e frequentarem boas escolas. Por vezes reclamavam do trabalho a bordo, de seus chefes a darem ordens sem pudor ou respeito. Em outras contavam histórias de outros tripulantes com quem embarcaram em tempos anteriores. Uma conversa leve , geralmente de bom humor, corria oceano afora. Em muitos dias ninguém aparecia naquelas quatro horas e a imaginação cobria a falta da boa conversa. Na chegada do navio ao porto o ritmo era outro, mais rápido, mais sério e sem tempos para conversas. Quando o navio saia em travessia novamente, subiam os marinheiros para contar suas aventuras e, em especial, as divertidas graças e desgraças em terra foram participar. Ali, naquele momento, nenhum lugar do mundo era melhor de se estar. Um a testemunha da existência do outro, sem se pensar ou se sentir necessidade da eterna felicidade.

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