sábado, 8 de novembro de 2014

Canoa furada

     Peço-lhes aqui uma licença para escrever sobre barcos menores, um olhar marinheiro sobre coisa pequena, de sentidos plenos, eu acho. Nada de grandes navios ou travessias intermináveis. Nada de furacões, encontros tocantes ou imensas noites de mar. Olho agora a pouca canoa furada, meio céu, meio terra, no último fundo da baía de Antonina. As cores ainda intactas, talvez mergulhadas de um vento maior. Agora abrigo de peixes e pequenos caranguejos, a quem lhes serve de muita coisa. A nós quase que não serve de nada, a não ser provocar a imaginação dos sentidos. As pequenas ondas tocando seu costado, as flutuações das cores da água ao seu redor e a curiosidade do menino a perguntar ao seu pai do porquê da canoa emborcada. Curioso, pergunta se aquela coisa se conserta, e se sim qual é o motivo do abandono. Quando se abandona uma canoa furada, quando? A quantas coisas mais nos serve uma canoa furada? Talvez a coisa que não se conserta leve a alma mais longe, ou melhor, a outro lugar que remos e músculos não possam levar.

Nenhum comentário: